"Cortaram as asas à democracia como se faz a uma galinha. Queremos voar, mas já não nos deixam", reclama Luís Tavares, dono do Rampinha, em Ponte de Lima, pequeno santuário de utopias por realizar. Há por ali incontáveis posters e retratos de Che, pinturas com o rosto de Zeca Afonso, um Lenine de perfil, emoldurado, registos da passagem de Camilo Guevara, filho do ícone, por este bar que é uma espécie de fórum local da rebeldia. Sem sectarismos, porém.
No verde da casa, tanto molha os beiços um comunista como o presidente da câmara, Daniel Campelo, CDS de sempre, visita habitual, e que está de saída da autarquia. O barbudo Luís, esse, não pede licença para o seu pensar, cedo ou tarde na noite: "Os espanhóis vêm aqui brincar com os euros e há gente nesta terra que nem dinheiro tem para uma sopa. Sabe o que lhe digo? Eles são os americanos da Europa e nós os mexicanos. E não nos livramos deste fado", atesta, como quem ensaia o diagnóstico de um país. Entre a cegueira e a lucidez.
Revista Visão