na rota dos peregrinosDe Ponte de Lima a Santiago de Compostela
Um grupo de quatro amigos percorreu de bicicleta durante três dias o Caminho Português de Santiago. Este grupo era constituído por Manuel Barros, José Carlos Lima, José Carlos Lopes e Damião Carneiro, todos de Ponte de Lima. O trajecto realizou-se em três etapas: Ponte de Lima - Redondela; Redondela - Pádron e Pádron - Santiago de Compostela. Iniciou-se na vila de Ponte de Lima, junto da Igreja Matriz, pelas 08.00 horas, no dia 1 de Junho de 2007 e terminou em Santiago de Compostela no dia 3, pelas 11.00 horas. O relato desta viagem é apresentado por Manuel Barros, elemento do grupo. 1ª ETAPA - (sexta feira, 1 de Junho de 2007)
Ponte de Lima - Redondela (69 km)
Transposto o rio Lima e chegado à Além da Ponte, o grupo virou à direita em direcção à freguesia da Labruja. Todos os seus elementos estavam conscientes de que esta jornada seria a mais dura do Caminho, quer pela sua extensão, quer pela sua irregularidade. Esta realidade veio a confirmar-se após alguns quilómetros percorridos, com algumas quedas, felizmente sem consequências. O pneu dianteiro da bicicleta do José Carlos Lopes, um dos elementos do grupo, furou. O tempo de reparação foi aproveitado para recuperar energias. Durante a subida da serra da Labruja, numa extensão de cerca de 2 km, as bicicletas foram transportadas à mão e aos ombros. Efectuou-se uma curta pausa a meia encosta, junto à Cruz dos Franceses, que assinala o local onde a população emboscou o exército de Napoleão, na invasão de 1809. Chegado à casa da Guarda Florestal e após um período de repouso iniciou-se uma longa descida pelo Vale do Coura, passando por Agualonga e Rubiães, facilmente identificada pela sua igreja românica. Passado o Coura subiu-se novamente até S. Bento da Porta Aberta, onde se fez uma pausa num café para comprar água.
O grupo chegou a Valença cerca das 13.00 horas. O cansaço de uma manhã difícil e de grande desgaste físico esteve patente nas dores musculares comuns a todos os eleme
ntos. Procurou-se um local para almoçar. Durante a refeição efectuou-se um balanço da jornada matinal e definiram-se objectivos para a tarde. Reinou o entusiasmo e a vontade de continuar era muita. Após o almoço, pelas 15.00 horas, iniciou-se mais uma jornada com destino a Redondela, uma vila da Província de Pontevedra, local escolhido para pernoitar no albergue existente nessa localidade. Atravessado o rio Minho pela antiga ponte metálica, o grupo entrou em território espanhol e dirigiu-se à Sé Catedral, em Tui. Aproveitou-se o momento para tirar algumas fotografias. Depois de percorrida a zona histórica, pedalou-se em direcção ao Vale do Louro, um dos troços mais bonitos do percurso. De seguida efectuou-se a travessia da enorme zona industrial de Porriño percorrendo-se cinco quilómetros em via asfaltada com intenso trá
fego de pesados a recomendar bastante prudência. Com a passagem por Porriño encontra-se a estrada EN 550, com a qual o grupo se cruzou muitas vezes, uma vez que anda sempre paralela ao Caminho e serviu de referência até Santiago de Compostela. Antes de chegar a Redondela, o grupo enfrenta uma vertiginosa e violenta descida obrigando alguns dos seus elementos com menos experiência a tomar alguns cuidados.Chegou-se a Redondela por volta das 20.00 horas. O grupo instalou-se no albergue da Torre do Relógio, no meio da cidade. Neste local, o grupo conheceu um conjunto de outros peregrinos vindos do Porto, também de bicicleta. Foi um momento de confraternização, de troca de experiências e de relatos dos momentos vividos. De referir que durante esta etapa o grupo sentiu algumas dificuldades de orientação devido à escassez de sinalética existente em algumas localidades, valendo a perspicácia do José Carlos Lima e do seu poder de orientação.2ª ETAPA- (sábado, 2 de junho de 2007)
Redondela - Pádron (58 km)
Após o pequeno almoço, o grupo saiu de Redondela pelas 08.30 horas. Todos os quatro elementos estavam bem dispostos e cheios de entusiasmo para mais um dia de esforço. O tempo estava fresco, ideal para pedalar, o que não se veio a verificar durante o dia. Pelo caminho o grupo passou em Arcade e Pontesampaio, onde desagua o rio Verdugo na ria de Vigo. Este rio é atravessado por uma extensa ponte medieval, que foi palco de uma das mais sangrentas batalhas da campanha de 1809, contra as divisões de Napoleão, que se dirigiam para Portugal. Depois desta travessia, o grupo percorreu um complexo conjunto de ruelas muito estreitas, exigindo perícia no controlo da bicicleta. Percorrido este labirinto de ruelas iniciou-se outro dos mais be
los troços de todo o Caminho, com a passagem no rio Ullo sobre uma ponte em ruínas que não é mais do que um arco de volta inteira em pedra, actualmente protegido por uma estrutura em madeira. No meio de um cenário natural de rara beleza o grupo percorreu uma longa e velhíssima calçada romano-medieval que trepa a encosta da Canicouva até Cacheiro. Vencida a área montanhosa o caminho segue por campos, vinhas e pomares até às imediações de Pontevedra. O grupo acusou bastante cansaço e o espírito de sacrifício e de ajuda entre os quatro elementos revelou-se de
grande importância para a parte final da manhã. Passada Pontevedra encontraram-se novamente trilhos de grande beleza, com densa vegetação e inundados de água, onde se destacam os cruzeiros de cantaria lavrada. Por volta das 13.30 horas, o grupo chegou a Caldas de Reis bastante exausto e aproveitou para almoçar. Caldas de Reis é uma pequena cidade termal, pertencente à província de Pontevedra e possui uma população de cerca de 10 mil habitantes. Durante o almoço um dos elementos do grupo sugeriu que antes de se iniciar o percurso da tarde se dormisse uma sesta para recuperar energias. Apesar de não existir consenso sobre esta sugestão decidiu-se fazer um período de descanso de meia hora. O trajecto em direcção a Pádron foi retomado pelas 15.30 horas. Foi uma jornada de 17 quilómetros sem grandes dificuldades e com alguns troços de grande beleza e plenos de encanto, como é a descida ao longo da vertente do rio Valga onde apetece voltar para trás e repetir esse magnífico trilho rodeado de vegetação. Em S. Miguel de Valga iniciou-se uma lenta descida para a Ponte de Cesures, atravessando o rio Ulla, por onde, segundo reza a lenda, subiu a barca com o corpo de Santiago, para aportar em Padrón. Mesmo ao lado do albergue onde o grupo pernoitou, localiza-se a Igreja de Santiago de Padrón, onde pode ser visto o padrão, a que foi amarrada a barca do Apóstolo e que deu o nome a esta cidade. Chegado ao albergue de Padrón os elementos do grupo tomaram merecido banho. O albergue com capacidade para 47 pessoas estava quase cheio, principalmente de peregrinos espanhóis, franceses, austríacos e alemãs. Em conversa com uma peregrina espanhola, muito experiente na realização dos caminhos, os elementos do grupo partilharam os momentos vividos durante o trajecto e reflectiram sobre o conforto espiritual sentido na realização desta missão.
3ª ETAPA - (domingo, 3 de junho de 2007)Padrón - Compostela (21 km)
O grupo deixou Padrón por volta das 08.30 horas em direcção a Santiago de Compostela, iniciando a última jornada da Peregrinação. Perto de atingir o seu objectivo final, o grupo estava confiante e com boa disposição. Depois de atravessar várias vezes a já conhecida EN550 subiu a Agro dos Monteiros, local que permite ter uma boa panorâmica da cidade do Apóstolo. É um local de referência do Caminho por ser aqui que, pela primeira vez, se consegue ver as torres da Catedral, por isso se efectuou uma pausa para admirar a paisagem. A última dificuldade a
vencer era a subida asfaltada do bairro da Choupana que devido ao calor intenso e às dificuldades musculares sentidas foi percorrida com a bicicleta à mão. A meio da subida os elementos do grupo pararam para encher as garrafas de água, tendo uma senhora espanhola se disponibilizado amavelmente
para encher as garrafas. Chegado à Porta Faxeira, entrada tradicional do Caminho Português na cidade velha atravessou as ruas medievais, repletas de pessoas, cheias de lojas e restaurantes até se chegar à Praça do Obradoiro, onde se ergue a monumental Catedral de Santiago. A Catedral começou a ser construída no ano de 1075, é um dos grandes monumentos europeus, tanto a nível artístico, como simbólico. Foi um momento único de grande satisfação pessoal para todos os elementos do grupo. Com um sorriso estampado nos rostos registaram a sua chegada fotograficamente. Momento especial foi também o encontro, após três dias de separação, com os familiares e colegas. Já em Ponte de Lima, na residência dos amigos Ilídio Ferreira e Teresa, o grupo e os seus familiares sentaram-se à mesa para jantar. Já com alguma nostalgia patente nas palavras relataram-se alguns dos momentos inesquecíveis vividos.
Agradecimentos
Em nome do grupo de peregrinos e como autor deste relato agradeço ao Presidente da Junta de Freguesia de Bertiandos a colaboração prestada, ao amigo Ilídio Ferreira e esposa, o apoio habitual e empenho pessoal nesta iniciativa e às nossas esposas a sua compreensão pelos inconvenientes causados.